"Compartilhando Experiências: Superando Desafios e Ampliando Horizontes"

Neste espaço, pode-se escrever as experiências boas e ruins como uma forma de compartilhar nossas dificuldades ao trabalharmos em um país onde as leis e decretos frequentemente não passam do papel. Quando criei este blog, meu objetivo era desabafar a frustração que sentia ao ver tantos alunos em Goiânia sem intérpretes de Libras devido ao descaso do governo. No entanto, logo percebi que poderia ir além e comecei a publicar textos de pessoas que nem conhecia, mas que gostei de ler. Acreditei que compartilhar esse material seria útil para outras pessoas em suas pesquisas. Surpreendentemente, meu blog teve um acesso significativo em pouco tempo, considerando que foi criado em abril de 2011. Gostaria de expressar meu agradecimento a todos que têm visitado este blog. Espero ter ajudado e contribuído de alguma forma. Se você tiver um texto para compartilhar, envie-me, pois eu o postarei, o que também será uma ajuda para mim. E-mail: regisneia@gmail.com

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sexta-feira, 29 de abril de 2011

O Profissional Intérprete de Libras

Imagen do google Ser Diferente
Oliveira afirma no livro inclusão, que no Brasil a política inclusiva está sendo implementada nas escolas públicas e privada da rede regular de ensino, porém faz-se necessário observar que os alunos que apresentam necessidades educativas especiais possuem, também, algumas dificuldades de inclusão social, assim deve-se pensar que esse trabalho de incluir esses alunos não consiste apenas na permanência física dos mesmos junto aos demais educandos, e sim na consideração de suas especificidades como bem esclarece os termos da Declaração de Salamanca no ano de 1994."Toda criança tem direito fundamental à educação,e deve ser dada a oportunidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem. Aqueles com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à escola regulares, que satisfaz a tais necessidades." A dificuldade maior encontratada pelos educandos com necessidades educativas especiais, especificamente o surdos, é derrubar as barreiras referentes à comunicação. O Decreto nº 5.626 (BRASIL, 2005) que regulamenta a Lei nº 10.436 (BRASIL, 2002), assegura que os discentes surdos sejam instruídos em língua de sinais brasileira (Libras) como primeira língua (L1) enquanto que a segunda (L2) seja o português em sua modalidade escrita ou oral. A libras é uma língua natural cuja modalidade é visual-espacial articulada através das mãos, das expressões faciais e do corpo. Frizanco comenta em trecho do livro ilustrado de língua brasileira de sinais que essa conquista foi um marco muito importante para a comunidade surda, que há muito tempo tem lutado para terem seus direitos reconhecidos, e a cada dia esse sujeito pressiona mais e mais para ter um intérprete que possa auxiliá-lo nas traduções simultâneas referentes às línguas de sinais e portuguesa conclui Ronice Quadros. Consequentemente favoreceu o reconhecimento da profissão de intérprete Libras/Português, abrindo-se um leque de oportunidades no mercado de trabalho para tais profissionais, reconhecida pela Lei 12.319 de 1º de setembro de 2010, assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nicoloso e Silva em Estudos Surdos IV afirmam que: "Por muito tempo, a língua de sinais foi vista como forma de comunicação entre as pessoas". Para muitos era uma língua inferior a todas as demais línguas orais, achando-se que sua estrutura linguística não tinha nenhum merecimento e importância no contexto linguístico, social, cultural, político e educacional. Segundo Brito em seu artigo no site do INES, esta concepção em relação à linguística tem sido modificada, graças às pesquisas que são feitas no intuito de apresentar aos estudiosos que a língua brasileira de sinais também é constituída de uma gramática tão ou mais complexa que a língua portuguesa e, que constituem elementos ou palavras lexicais se estruturando a partir de mecanismo morfológicos, sintáticos e semâniticos. O que se conhece como palavra ou item lexical nas línguas orais-auditivas, nas línguas de sinais são denominados sinais. O sinal é formado a partir da combinação de mão e movimento em um determinado lugar, podendo ser utilizado o corpo, se necessário, para fazer esse movimento ou esse sinal. É importante lembrar que essas articulações onde se usa as mãos são comparadas aos fonemas e às vezes aos morfemas, recebem o nome de parâmetro na língua de sinais. Existem outros quatros tipos de parâmetros na Libras nomeados de movimento, locação ou ponto de articulação, orientação e expressões não manuais (movimentos faciais e/ou corporais). Para a comunidade surda a Língua de Sinais faz parte de uma cultura que como qualquer outra é carregada de significação social. Quando fazemos um estudo sobre o povo e sua cultura devemos primeiramente conhecer sua forma de comunicação, ou seja, sua língua. Esta nos permite trocar informações e ideias. Quando os surdos querem trocar informações e interagir uns com os outros eles utilizam os sinais, isso ocorre quando querem se fazer entender por outras pessoas que não são surdas, assim afirma Chaveiro em artigo para Revista Virtual de Cultura Surda e Diversidade. A presença do intérprete se faz importante em sala de aula para que haja uma comunicação que favoreça ao aluno, ao professor e aos demais participantes desse diálogo uma interação comunicativa social e cultural com o poder completo para influenciar o objeto e o produto, exatamente porque a maioria das pessoas desconhece o significado desses sinais. Quadros afirma que: "Diante dessa perspectiva o intérprete de Libras precisa ter conhecimento técnico para que suas escolhas sejam apropriadas no ato da intepretação por envolver processos altamente complexos". Uma tradução requer do profissional qualificação, um repositório de conhecimentos gerais, sendo que essa experiência se fará de acordo com o setor que se destine seu trabalho. Nicoloso e Silva comentam que "O intérprete precisa de reações rápidas, pois recebe armazena e reproduz a informação quase que concomitantemente". Há muito sua presença se faz necessário e continuará assim até que toda humanidade fale um só língua. É necessário que se compreenda a diferença do professor e do profissional intérprete. O primeiro exerce um papel de fundamental importânicia em sala de aula, completamente inserido no processo interativo social, cultural e linguístico. Enquanto que o intérprete é apenas um mediador entre pessoas que não conhecem e/ou dominam a língua de sinais. Esse profissional abstém na medida do possível em interferir no processo de comunicação. Quadros ainda diz que muitas vezes o papel do intérprete se faz confundir com o papel do professor quando estão em sala de aula. Algumas vezes os alunos dirigem perguntas ao intérprete ou acontece de o professor deixá-lo tomando conta da sala de aula em seu lugar. Ocorre de o profissional ser solicitado pela coordenação para dar aula em outra sala quando falta um professor ou de exerecer funçoes administrativas na secretaria deixando o aluno surdo sem apoio. Frequentemente ocorre um erro de exclusão, exemplo: o aluno surdo está com dúvida, o professor explica o conteúdo da dúvida olhando para o intérprete e não para o aluno, sendo que a dúvida não é dele. Outras vezes o professor consulta o intérprete a respeito do desenvolvimento do aluno, como se ele fosse a pessoa mais indicada para fazer essa avaliação ou questiona como ele deve fazer a avaliação. Se o intérprete assumir todos os papeis que lhe são delegados por parte dos professores, coordenadores e alunos, ele ficará sobrecarregado, não conseguindo desempenhar sua função com desempenho e, confundirá seu papel dentro do processo educacional, um papel que está sendo constituído. O que pode interferir no desenvolvimento do aluno surdo. O próprio professor delega ao intérprete a responsabilidade de assumir o ensino dos conteúdos desenvolvidos em aula, acrescenta Quadros. Os surdos sentem muitas dificuldades quando não têm apoio do intérprete, várias são as salas de aula que não contam com esse profissional. É importante percebermos nos dias atuais, que o termo processo inclusivo não é o mesmo que processo de integração, pois esse termo inclusão engloba os indivíduos que por anos foram descrimanados como: mulheres, negros, índios e deficientes. Para que haja inclusão escolar favorecendo todas as deficiências é necessário antes conscientização de toda a sociedade. Isso implica que em sala de aula o professor regente precisa aprender a lhe dar com as pessoas com necessidades educativas especiais e, o intéprete de Libras deve ser visto por esse profissional como auxílio na comunicação e não como um secretário. Sabe-se que toda mudança requer uma quebra de valores e paradigmas, descobrir conceitos e preconceitos implica em abrir a mente deixando nascer novas ideias, demonstrar que para se falar outra língua não é ser diferente porque o diferente é igual a todos relata Nicoloso em seu artigo. Os portadores de necessidades educativas especiais apesar de todas as lutas para terem seus direitos respeitados, ainda precisarão ter muito apoio de toda a comunidade para que se faça valer os direitos conquistados. Não basta que se aprovem as leis se as pessoas não se conscientizarem primeiro que todos somos iguais, e que as diferenças apenas nos aproxima nos tornando mais solidários e humanos.

Referências Bibliográficas
BRASIL, Secretaria de Educação Especial. O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa. 2 ed. Ronice Muller Quadros (Org). Brasília: MEC, SEESP, 2007.
Decreto-lei nº 5.626, de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei 10.436, de 24 de abril de 2002, e do art. 18 da Lei nº 10.098, 19 de dezembro de 2000. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 23 dez. 2005. Seção 1,p28.
Lei n° 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências. Lei nº 12.319 regulamenta o exercício da profissão de Tradutor Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS. Diário Oficial da República do Brasil.
Declaração de Salamanca e linha de ação sobre Necessidades Educativas Especiais, Brasília; CORDE, 1994.
BRITO, Lucinda Ferreira. Língua Brasileira de Sinais - Libras. In. BRASIL, Secretaria de Educação Especial Estrutura Linguística da Libras.
CHAVEIRO, Neuma, et al. Mitos da Língua de Sinais na Perspectiva de Docentes da Universidade Federal de Goiás. Revista Virtual de Cultura Surda e Diversidade.
FRIZANCO, Mary Lopes Esteves; HONORA, Márcia. Livro ilustrado de língua brasileira de sinais. São Paulo: Ciranda Cultural, 2009.
MACHADO, Paulo César. Integração/Inclusão na Escola Regular: um olhar do egresso surdo. In: QUADROS, Ronice Muller de (Org). Estudos Surdos I. Petrópolis, RJ. Arara Azul, 2006.
NICOLOSO, SiIvana; SILVA, Soélge Mendes da. Lendo sinalizações em Libras: onde está o sujeito? In: QUADROS, Ronice Muller de; MARIANE, Rossi Stumpf (Org). Estudos Surdos IV. Petrópolis, RJ. Arara Azul, 2009.
OLIVEIRA, Ivanilde Apoluceno. Compartilhando Saberes. In: MARTINS, Lúcia de Araújo Ramos (Org). Inclusão. RJ. Vozes, 2006.